Mudar de País é Uma Roda Gigante Descontrolada

Quando me imaginei pela primeira vez mudando de país e vivendo no exterior, foi uma coisa mágica. Vieram milhões de imagens na minha cabeça de passear pelas ruas, conhecer uma nova cultura, uma culinária diversificada, um idioma distinto e histórias de pessoas com suas vivências.

Não há como negar que tudo isso supracitado existe, porém o que esquecem de te contar é que agregado a isso vem uma chuva de inseguranças e pensamentos incontroláveis. A saudade que você nem sabia que tinha da sua terra natal começa a te visitar todas as noites. A necessidade do colo e aconchego nos dias difíceis começa a existir. E o medo do desconhecido agora está mais alimentado que nunca.

Viver no exterior é de fato uma roda gigante descontrolada, onde há dias que você está la no topo da roda, super feliz e empolgado com tudo que cruza seu caminho. Há outros dias que você está na cadeira mais baixa do brinquedo, onde a luz não te toca, onde você não enxerga o horizonte e ninguém consegue te ver. Claro que a maioria dos seres normais enfrentam essa mesma sensação nas suas vidas, porém aqui a coisa perde o controle. A velocidade em que essa roda gira toma outras proporções. Você as vezes se vê preso ou rodando rápido demais. E até mesmo ''socorro'' você tem que pedir em outro idioma, porque no seu idioma original, quase ninguém vai conseguir te compreender.

A parte que ninguém te conta é que você volta a ser um bebê recém nascido que precisa aprender tudo do zero, porque tudo que você sabia não existe mais. O sistema judiciário é outro, pegar um transporte publico é diferente, contratar um simples plano de internet exige novas regras e fazer uma compra boba de mercado pode te fazer tremer todo por medo de não entender o que a moça do caixa vai dizer.

Sim, a vida no exterior é uma roda gigante descontrolada. Entretanto, apesar de tudo isso, o que você jamais esperava ao conseguir lidar com cada um desses detalhes, é uma força inimaginável. Ao enfrentar todos esses desafios, quando você olha pra trás, fica deslumbrado com o ser humano que você se tornou. A sua capacidade de resiliência é colocada a prova e você acaba percebendo que cada pedra que veio na sua jornada não te fez tropeçar, mas apenas foram usadas pra construir seu caminho de tijolos amarelos. A maior beleza de tudo isso é que você descobre que agora é do mundo, que você não tem mais barreiras. Descobre que as asas que te faltavam se tornaram parte do seu próprio ser.

Posso dizer, a nível pessoal, com toda certeza, que eu me vi em pedaços várias e várias vezes. Em algumas delas foram situações me destruíram, mas em outras vezes foram as próprias pessoas que eu amava que fizeram questão de tentar arrancar pedaços de mim. No entanto, sem sombra de dúvidas, não existe nada mais gratificante do que se dar conta que você finalmente colou todos os cacos e começou a escrever as linhas da sua nova história.

Flávio P Silva